No início da minha prática em consultório logo observei que muitas mães tinham um relato de terem sido muito cuidadosas com a alimentação e suplementação durante a gestação, mas após o nascimento do bebê interromper o uso dos suplementos e diminuir o cuidado com a alimentação. E isso não pode acontecer. No período pós parto imediato a mulher passará por um processo de recuperação física, em que seus órgãos e tecidos precisarão de muitos nutrientes para se adaptarem a esse novo momento que envolve muito cansaço físico e emocional. Além disso, um conceito que elas precisam ter em mente é que não vão conseguir passar pelo leite os nutrientes em que apresentarem deficiência, então precisam estar muito bem nutridas nessas fase.
Alimentação:
A recomendação é muito parecida com a gestação, em que a mulher deve priorizar alimentos mais naturais, evitando alimentos com adição de açúcar e ultraprocessados. Embora muitas mulheres estejam em fase de recuperação física e desejem emagrecer, no período de amamentação exclusiva não devem fazer dietas restritivas. Primeiro porque cada grupo alimentar irá fornecer um nutriente diferente para o leite e segundo porque a dieta precisa ser calórica para garantir a quantidade de calorias ideal do leite.
Bebidas alcoólicas devem ser evitadas, pois há passagem do álcool absorvido pelo leite. Não precisamos nem falar dos prejuízos que o esse álcool que chega ao leite pode trazer para o recém-nascido não é mesmo? Mas não se desespere! O uso de bebidas alcoólicas em situações pontuais é possível. Para isso é necessário ordenhar o leite antes de beber para ser oferecido ao bebê e não amamentar durante o consumo e nem 6 horas após a última dose (nesse intervalo é interessante fazer uma ordenha e desprezar o leite ordenhado se a mama estiver muito cheia).
Café, chocolates, pimentas e outros alimentos estimulantes devem ser evitados principalmente a noite, mas não são proibidos. Use com moderação e observe se seu bebê fica ou não mais agitado ou irritado após o consumo.
Muitas mães questionam se devem interromper o consumo de algum alimento para evitar as cólicas e desconfortos abdominais do bebê. Existem muitas dicas sobre isso na cultura popular. Na prática considero que as cólicas e desconfortos estão muito mais associados a imaturidade do bebê do que aos alimentos que a mãe consome. Então costumo orientar de forma individualizada se a mãe observa que algum alimento que ela consome pode estar prejudicando o bebê.
Uma restrição alimentar que muitas mães costumam fazer é do leite e derivados, pois hoje muito tem-se falado da alergia a proteína do leite de vaca (APLV). Precisamos ter muito cuidado com isso! De modo geral o consumo de leite em pessoas adultas deve ser cuidadoso, pois muitas pessoas tem sintomas gastrointestinais associados a intolerância a lactose ou ao efeito inflamatório da caseína e nem sabem disso. Mas a APLV real em bebê é um diagnóstico médico que deve ser feito com muita precisão. Precisamos lembrar que cólica do lactente, regurgitação, disquezia e constipação são sintomas comuns em bebê até por volta do terceiro mês de vida. Embora esses sintomas possam estar presentes também na APLV, sua presença isoladamente não faz diagnóstico da doença. Então não façam restrições alimentares sem a devida orientação.
Suplementação:
A lactante precisa de muitos nutrientes para nutrir seu corpo e o do bebê. Por isso precisamos manter uma suplementação, preferencialmente individualizada, pelo menos durante o período de amamentação exclusiva. Se você não tem a possibilidade de passar com uma pediatra que tenha esse olhar ou com uma nutricionista materno infantil, procure manter a suplementação utilizada durante a gestação. E se tem um nutriente que você deve incluir mesmo que por conta própria é o omega 3. Trata-se de 2 ácidos graxos essenciais que compõem a membrana dos neurônios e da retina (já entenderam a importância neh). Nosso corpo não produz esse nutriente. Ele é proveniente da dieta, estando presente principalmente nos peixes de origem marinha. Mas temos um grande problema: para atingir a quantidade mínima de DHA (componente do omega 3) precisamos consumir no mínimo 3 porções de peixe por semana. Na alimentação brasileira isso já não é comum e além disso, a maioria dos peixes disponíveis são criados em cativeiro, alimentados com ração, ou seja, eles não tem omega 3, pois este vem das algas marinhas. Por isso todas as gestantes e lactantes precisam suplementar o omega 3, sem exceção. Uma dica importante é que você deve escolher uma omega 3 com certificado de origem, para ter certeza que é de fato um óleo de peixe e que não tem contaminação por mercúrio. Para isso deve ter um selo de origem, como da IFOS.